*** OLHO
NO OLHO ***
- Eu
estava te esperando.
- É.
Eu sei.
-
Tenho buscado e coletado evidências da existência de vocês em todos os
lugares...
- É.
-
Sim, bem sabes. Tenho sentido tua presença há meses por aqui...
-
Tens pensado muito em mim... bem sei: não muito bem. Aliás, tens pensado muito
mal a meu respeito.
-
Veja: minhas intenções não eram estas. Capturar alguém do teu porte não é muito
sábio... eu sei.
-
Não sabes...
-
Como?
Com
uma pausa maquiavélica, meticulosamente pensada e operada, entre as duas
palavras, a musa vociferou do âmago de sua onipotência daquele cárcere
projetado para contê-la:
-
Não... sabes.
Procurando
não demonstrar o medo que se tornava evidente no pulsar da jugular, ele tentou
desestabilizá-la, dali mesmo, sentado no centro do pan-óptico que improvisou a
partir de suas heranças modernas:
- Eu
sou o sapiens da sala, mulher!
Ela
arquejou em volta do primata e, como um leão de juba incandescente como o fogo
que é impedido de avançar nos visitantes pelas barras em um zoológico, rosnou. Se
aproximou um pouco mais e sussurrou no ouvido dele:
- Só
porque eu quis.
-
Como?
-
Vês? Ter dúvidas não é ruim... entretanto, tê-las em demasia... e tão
primárias... isso é tão... sapiens... E ainda aplicas a mim o substantivo
feminino que aplicas às primatas... não sou da sua espécie...
- Percebe-se
que não és... Olha! Tenho estudado vocês desde sempre e sei que estavam
presentes na construção do estado moderno... esperava uma reação mais
humanitária...
-
Desde sempre? Desde quando? Presenciamos a progressão do teu be-a-bá...
O
sapiens ficou pensativo, como que tomado de surpresa...
-
Quanto ao humanitário... outro pequeno descuido de nossa parte... Algumas de
nós dão muita corda para vocês...
-
Espera! O meu be-a-bá? Vocês não são tantas assim... não podem cuidar de todo o
be-a-bá do mundo...
-
Sempre pudemos... o plano moderno os colocou todos dentro de salas de aula para
que pudéssemos acompanhar esse processo de forma mais... digamos: integral.
-
Não é verdade! As professoras que conheço não são da sua laia... são da minha
espécie... já sei como vocês operam...
-
Ah, a verdade... o que é a verdade? De onde vieram? Pra onde vão? Para onde
quisermos... Não damos aulas: inspiramos. Isso já sabes... mas deves estar
inebriado com o vinho que abriu para me esperar enquanto vigiavas o néctar que
deixou aqui para me atrair... A julgar pelas garrafas abertas: demorei para
chegar...
- Um
pouco mais do que eu esperava...
-
Não é bom que te auto-subestimes... Tens em mãos a última garrafa da qual
dispões... estimaste adequadamente tuas provisões... Tivesse tu superestimado:
eu poderia te acompanhar...
-
Não por isso. Acabei de abrir.
Ele
serviu uma taça de vinho para a musa e continuou a beber diretamente do
gargalo... A musa assistiu hipnotizada a um gole um pouco mais demorado, que
deixou um pouco do líquido escorrer pelo canto da boca e descer pela jugular
pulsante do pescoço.
-
Embora eu prefira beber dos gargalos que eu mesma rasgo, agradeço a taça.
Operar no nível físico é muito desgastante... não teríamos energia suficiente
para coexistir com vocês o tempo todo do be-a-bá ao túmulo... abrimos raras
exceções em momentos de elevada produção científica ou artística... precisamos
de combustível... chás, cafés, cervejas, vinhos, destilados, fermentados,
doces, azedos, amargos... até mesmo líquidos mais nobres, provenientes de
cascos orgânicos descartáveis, frágeis e menos valiosos. Os melhores drinques
vêm nos piores frascos.
- Sim,
eu bem sei. Também sei que os elementos de nosso plano têm grandes efeitos
sobre seus poderes de atuação por aqui... tanto para amplia-los como para
restringi-los. Sei que podem influenciar na cor de seus olhos e cabelos... e
que se forem ingeridos na forma líquida eles têm efeitos mais rápidos. Muito
obrigado por responder ao meu convite com tua presença física...
A
musa fez uma reverência... iria brincar um pouco mais com o primata, lembrou de
uma orca brincando com uma foca no mar gelado, achou divertido e sorriu sem
mostrar os dentes.
O
primata recuou. Até pensou em reagir, talvez pudesse aplicar um mata-leão.
Gostava de resolver as questões no mata-leão, porque não matava: botava para
dormir. Entretanto, o leão com a juba eriçada, agora com mechas roxas da cor da
uva, também pretendia colocá-lo para dormir... para sempre. O primata e o leão
(porque a leoa não tem juba) prolongavam a conversa como se estivessem esperando
por mais alguém...
-
Então, as musas estão nas salas de aula junto com os professores?
-
Nem sempre... o projeto moderno nos atende muito bem, de forma que não
precisamos estar sempre do lado de vocês... ainda bem...
-
Mas nem todos os alunos progridem na mesma velocidade... talvez nem
precisassem... mas... ao final do ano letivo eles deixam as classes com
conhecimentos tão desuniformes... isso não é tão humanitário quanto a
modernidade de vocês pressupõe: liberdade, igualdade e fraternidade... onde
está a igualdade nesse processo?
-
Olha, rapaz: presta atenção.
A
voz soou um tanto grave, cavernosa... Pensou em dizer: “junto com a liberdade e
fraternidade”, mas resistiu, receou ter que explicar também a piada. Balançando
a taça na mão com o indicador apontado para a fronte do primata, prosseguiu
tomando outra linha de pensamento:
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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/deed.pt (ISBN 978-85-915192-8-6)
asM3M. Vol.3. Ed.2.
TRI eQUIVOCADO, BARBARIDADe!
COLeÇÃO AS MUSAS DO TeRCeIRO MILêNIO
VOLUMe 3. SeGUNDA eDIÇãO.
ii. Esta página só pode ser reproduzida em suporte físico desde que se apresente tal qual se encontra no original. iii. O conteúdo da OBRA que exceder três páginas não pode ser exposto na Internet ou digitalmente reproduzido (utilizar a opção i). Ao longo do ano de 2018, solicite o “.pdf” para clarcen2009@gmail.com |
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CALLONI, Humberto. LARCEN, César G. From
modern chess to liquid games: an approach based on the cultural studies
field to study the modern and the post-modern education on punctual
elements. In: CRIAR EDUCAÇÃO Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação. UNESC, v. 3, p. 1-19, 2014.
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